Depois de quase três anos de terapia percebi o quanto somos
parecidos com nossos pais. Nossos hábitos, qualidades, defeitos e
principalmente: nossos erros. Pensando nesse assunto claro que me lembrei da
canção interpretada pela inigualável Elis Regina, que diz mais ou menos assim:
“Minha dor é perceber que apesar de feito tudo que fizemos, ainda somos os
mesmos e vivemos como nossos pais”. Essa sentença pode ser interpretada de
inúmeras maneiras, irei me ater apenas a que julguei importante para minha
vida, que foi um insight, uma
descoberta – não tão brilhante assim!
Se você ainda é muito jovem vai dizer que eu sou louca e deve
estar argumentando mentalmente que “não, não tenho nada a ver com os meus
pais!”. Pois te digo que tem, só não percebeu ainda. Fora as características
físicas, quero me fixar a tendência que os filhos tem de repetir os erros
paternos – por mais que odiemos esses erros!
Quantos de vocês já não viram situações de mulheres que
tinham pais agressivos e que, em algum determinado momento da vida, se casam
com homens igualmente agressivos? Quantas mulheres que sofreram na infância as
consequências do grande consumo de álcool por parte do pai e se relacionam com
homens que adoram beber? Já vi milhares dessas repetições. Acredito que vocês
também. Na minha família encontro inúmeros casos, mas prefiro mantê-los em
sigilo, já que prometi não expor ninguém do meu convívio enquanto eles ainda
estiverem vivos.
Tentarei dar uma breve explicação do que aprendi nas minhas
sessões de análise, lembrando que curso filosofia e não psicologia, portanto
tudo que será explicitado é uma interpretação minha dos fatos. Gostaria também
de deixar claro que estou tratando de mulheres, dos homens nada sei! Comecemos
então: toda garota tem uma espécie de tela em branco em seu imaginário, e nessa
tela ela pinta todas as características do relacionamento dos pais. Ela
provavelmente vai ressaltar os defeitos do pai, os defeitos da mãe, as
qualidades, e as faltas de cada um. Isso tudo fica gravado na memória da
criança, que vai usar inconscientemente todas essas “informações” como
parâmetro para escolha do namorado/marido/pai dos seus filhos. É claro que ela
não faz isso sabendo que está de fato fazendo isso. Tudo fica no subconsciente.
Só depois de muita terapia é que gente descobre a merda que está fazendo.
Existe uma fase da adolescência em que toda garota compete
com a mãe, isso é absolutamente normal! – de verdade!, e dessa competição, a
garota pensa que vai conseguir fazer melhor que a mãe e que vai conseguir
encontrar um marido melhor que o pai que ela teve e que se ele tiver algum
defeito ela vai conseguir mudar isso, porque afinal, o que quase todas as
mulheres querem é o trunfo de conseguir mudar o companheiro. Um dia todo mundo
aprende que isso é balela. Furada.
Eu acredito que todas as pessoas nascem com características
únicas e imutáveis. Não tem amor, não tem namoro, não tem casamento que mude.
Geralmente são características extremamente fortes e que incomodam todo mundo
que está por perto. Portanto não adianta a gente querer mudar ninguém. Você vai
esperar o cara mudar eternamente, e o máximo que vai conseguir é um sexo de
reconciliação, uma mudança rápida de dois meses até que o caráter elevado do
outro fale mais alto e ele volte novamente a fazer tudo que te irritava
novamente.
É por isso que eu digo: se o seu atual companheiro tem
atitudes recorrentes e que você odeia, o que é que você ainda está fazendo com
esse cara? Tá esperando ele mudar? Só se mudar de país, meu bem. Ou se acostuma
ou não perturba. É claro que eu acredito em um controle de conduta, mas tudo
que permanece muito tempo controlado uma hora se descontrola. E ai vai voltar o
ciclo medíocre de sexo de reconciliação – paraíso por dois meses – inferno
novamente.
Eu já cometi esse erro. Uma vez me envolvi com um cara que
era igual ao meu pai. Idêntico. Tinham os mesmo defeitos, qualidades, se
pareciam fisicamente e faziam aniversário no mesmo dia. Claro que na época eu
não percebia a merda que eu tava fazendo. O que me manteve ligada a ele por
tanto tempo foi justamente essa cegueira de querer tentar corrigir o erro da
minha mãe. Até que um dia eu percebi que eu não queria que esse cara se
tornasse o pai dos meus filhos, porque eu não quero passar essa maldição
adiante. Minha mãe cometeu o erro da minha avó, e eu quase cometi o erro da
minha mãe. E isso vira uma armadilha, porque a gente não quer desistir. É uma
força interna extremamente forte que nos prende àquela pessoa tão parecida com
a nossa figura paterna.
Creio que o importante é aplicarmos em nossas vidas apenas os
bons conselhos dos nossos pais, e não tentarmos corrigir subconscientemente os
erros cometidos por eles. O que poderia ter sido não foi. E não será.
Marcella Prado
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